3  Quais caminhos o pós-abolição tem percorrido? Uma breve apresentação dos dados.

A codificação no Atlas.ti 7 resultou na árvore de códigos composta por cinco famílias:“ANÁLISE_PÓS_ABOLIÇÃO”, “ELEMENTOS_TEXTUAIS”, “REC_ESPACIAL”, “REC_TEMPORAL”, “TEMÁTICA_GERAL”, detalhadas no capítulo anterior. Esse conjunto de códigos representam os elementos que sintetizam nossas compreensões teóricas sobre o pós-abolição e alguns elementos como o perfil dos autores e instituições que julgamos interessante identificar, pois, acreditamos que em análises futuras estas informações sejam relevantes em certa medida para identificar afinidades de pesquisa sobre o campo ou, até mesmo uma análise política da produção epistemológica sobre ele.

Identificamos com eles um total de 173 autores, 53 instituições de ensino, 97 temáticas, 5 períodos (recortes temporais), 96 espaços geográficos (recortes espaciais) e 388 ocorrências da utilização do termo pós-abolição. Buscamos com isto, construir caminhos para a reflexão sobre como este campo historiográfico vem se consolidando nos simpósios da ANPUH e, consequentemente na historiografia nacional além de construir perguntas sobre quais caminhos os autores tem percorrido para tal diálogo.

Como já mencionado, no primeiro dataset filtrado a partir de 2013, resultaram 6.434 publicações completas, no dataset final, após o recorte ser feito pelo termo, conforme especificado na metodologia, foram identificados 185 papers, o que representa do total 2.8% das publicações entre 2013 e 2019 no Simpósio Nacional da ANPUH. Destas 185 publicações, 7 papers estavam duplicados e 1 vazio, resultando em 177 papers a serem analisados.

A primeira informação que buscamos identificar foi se o paper estava tratando sobre o pós-abolição enquanto tema central ou se o termo havia sido mencionado de maneira incidental. Para isso, criamos alguns critérios de identificação: a) Se o termo estava sendo utilizado no título da publicação; b) Se o autor expressava no texto que a partir daquele elemento apresentado ele buscava discutir sobre o pós-abolição mesmo o termo não sendo apresentado no título do paper e c) Se o texto estava discutindo especificamente sobre o pós abolição. Não havendo enquadramento do paper em ao menos um dos critérios anteriores, este foi codificado como tema incidental.

3.1 Dados quantitativos

1. Eventos:

Os eventos representam os simpósios da ANPUH.

• Evento XXVII – Conhecimento Histórico e Diálogo Social (2013)

• Evento XXVIII – Lugares dos Historiadores: Velhos e Novos Desafios (2015)

• Evento XXIX – Contra os preconceitos - História e Democracia (2017)

• Evento XXX – História e o Futuro da Educação no Brasil (2019)

Referente ao evento XXVII, identificamos 60 papers com o termo; para o Evento XXVIII, 35; no Evento XXIX constavam 34; e, no Evento XXX, 46. Sobre a ocorrência do uso de termos sobre os eventos, não conseguimos identificar uma tendência.

2. Instituições e autores:

Para caracterizar o perfil dos autores e instituições, nós criamos os códigos ELEMENTOS_TEXTUAIS::FORMAÇÃO, ELEMENTOS_TEXTUAIS::INSTITUIÇÃO e ELEMENTOS_TEXTUAIS::AUTORIA. Ambos são códigos filhos do código ELEMENTOS_TEXTUAIS. Identificamos um total de 173 autores, nos papers que tinha o pós-abolição como tema central, encontramos referente a formação: 2 graduandos, 2 graduados, 20 mestrandos, 11 mestre, 36 doutorandos, 14 doutores, 3 pós-doutorandos, 2 pós-doutores, nenhum especialista e 4 autores não tiveram formação identificada. Nos de tema incidental, verificamos: 1 graduando, 6 graduados, 24 mestrandos, 15 mestres, 28 doutorandos, 14 doutores, 2 pós-doutorandos, 1 especialista, nenhum pós-doutor e 3 autores não tiveram a formação identificada. Previsão de 3% de margem de erro devido às publicações repetidas. Ver gráfico 1. Gráfico interativo disponível em: https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/formacao.html.

Das 53 instituições, referente aos papers identificados como tema central, encontramos o seguinte quantitativo: IFBA(1), UEFS(1), PUC/RIO(1), UDESC(1), UERJ (2), UESC(1), UEMG(1), UFF(12), UFBA (2), UFPB(2), UFAM(1), UFRJ(3), UFRGS(4), UFRRJ(5), UFS(3), UFSC(3), UFSCAR(1), UFSJ(1), UNEB(3), UNEMAT(1), UNESP(1), USP(2), UNIRIO(2), UNIFESP(3), UNICAMP(4), UNIRIO(1), UNIVAP(1), UNISANTOS(1), UNISINOS(1). Nos identificados como tema incidental encontramos: IFPE(1), IFBA(1), IFAL(1), NYU(1), PUC/RIO(3), PUC/SP(3), UDESC(2), UEL(1), UECE(1), UERJ(3), UEM(1), UFAC(1), UEPG(1), UFAM(1), UFERSA(1), UFBA(3), UFF(7), UFBPR(1), UFES(1), UFFRJ(1), UFJF(4), UFPE(6), UFMS(1), UFPA(1), UFGD(2), UFMT(1), UFPE(6), UFRJ(3), UFPA(1), UFRPE(3), UFRGS(2), UFPEL(1), UFPR(2), UNEB(6), UFSC(3), (4) UFRRJ, UNEAL(1), UFSJ(1), USP(4), UNIRIO(3), UNICAMP(2), UNILAB(1), UNISINOS(1), UNITAU(3), UNESP(1), USS(1). Ver gráfico 2. Gráfico interativo disponível em: https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/instituicoes.html.

3. Recorte temporal:

Inicialmente prevemos fazer o recorte temporal conforme os tempos históricos, no entanto, ao percebermos que os papers muitas vezes tratavam de um tempo que não se enquadrava no tempo cronológico do tempo histórico, decidimos fazer o recorte temporal por séculos. Assim, criamos códigos para os séculos, XVII(1), XVIII(1), XIX(95), XX(106), XXI(30). Sendo que os papers de tema central trataram sobre os séculos XIX(46), XX(59), XXI(2) e os de tema incidental trataram sobre os séculos XVII(1), XVIII(1), XIX(48), XX(46), XXI(29). Ver gráfico 3. Versão interativa disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_tem.html.

4. Recorte espacial:

Os dez principais espaços identificados pela análise entre as publicações de tema central e incidental são: Rio de Janeiro(19), Estado do Rio de Janeiro(20), Bahia(20), São Paulo(8), Estado de São Paulo(14),Santa Catarina(9), Minas Gerais(11), Rio Grande do Sul(8), Sergipe(3) e Cachoeira (2). Ver gráfico 4. Gráfico interativo disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_esp_10_novo.html.

Nos papers de tema central identificamos o seguinte quantitativo: Rio de Janeiro(13), Estado do Rio de Janeiro(10), Bahia(9), São Paulo(4), Estado de São Paulo(8),Santa Catarina(5), Minas Gerais(5), Rio Grande do Sul(4), Sergipe(3)e Cachoeira (2). Ver gráfico 5. Gráfico interativo disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_tema_10_central_novo.html.

Para os de tema incidental, identificamos: Rio de Janeiro(6), Estado do Rio de Janeiro(10), Bahia(11), São Paulo(4), Estado de São Paulo(6), Pernambuco(5), Santa Catarina(4), Minas Gerais(6), Mato Grosso (4) e Rio Grande do Sul(4). Ver Gráfico 6. Versão interativa disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_esp_10_incidental_novo.html.

5. Recorte Temático:

Analisados em conjunto, os papers de tema central e incidental apresentam dez temáticas mais relevantes, sendo: trabalho(30), memória(29), raça(17), trajetória masculina(15), associativismo(14), identidade(14), performances culturais(12), intelectualidade(11), racialização(9), e família(7). Ver gráfico 7. Versão interativa disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_tema_10.html.

As dez temáticas das publicações de tema central são: trabalho(16), memória(12), trajetória masculina(10), associativismo(9), raça(8), performances culturais(7), racialização(6), identidade(5), intelectualidade(5) e família(4). Ver gráfico 8. Versão interativa disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_tema_10_central.html.

As dez temáticas das publicações de tema incidental são: Educação(20), memória(17), Trabalho (14), Lei 10639/11645(12), Identidade (9), Raça(9), Ensino de História(9), Quilombos(7), intelectualidade(6), Periódicos(6). Gráfico 9. Versão interativa disponível em: https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_tema_10_incidental.html

6. Pós-abolição:

Nestes 175 papers, o termo foi mencionado 388 vezes, sendo 268 identificados nas publicações no qual o pós-abolição representa o tema central (ANÁLISE_PÓS-ABOLIÇÃO::TEMA_CENTRAL) e 120 vezes em que representa o tema incidental (ANÁLISE_PÓS-ABOLIÇÃO::TEMA_INCIDENTAL). Para dar mais especificidade a análise, criamos ainda os códigos ANÁLISE_PÓS-ABOLIÇÃO::TEMA_INCIDENTAL_CORPO e ANÁLISE_PÓS-ABOLIÇÃO::TEMA_INCIDENTAL_RODAPE_BIBLIOGRAFIA para identificação em caso de menção do termo incidentalmente, como nas notas bibliográficas, em títulos de publicações, leis, etc. E ainda, a etiqueta ANÁLISE_PÓS-ABOLIÇÃO::NOTA_RODAPÉ, para especificar a utilização do termo em notas explicativas de rodapé. Como se tratava de contabilizar a incidência dos termos, esta divisão fez-se necessária para dar suporte às reflexões sobre o quantitativo de publicações com ocorrência do termo principalmente nas identificadas como tema incidental.

Para a definição da árvore de código da família ANÁLISE_PÓS_ABOLIÇÃO, que constitui a análise central, buscamos sistematizar possíveis usos do termo conforme as discussões próprias do campo. Assim, criamos códigos que pudessem identificar o termo sendo utilizado com sentido: político, comparativo, campo de pesquisa, critica do termo, definição do termo, extinção do cativeiro, perspectiva comparativa e perspectiva teórica. Ver gráfico 10. Gráfico interativo disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_analise.html.

Para os papers identificados como tema central, a análise resultou em 249 citações com sentido teórico (PERSPECTIVA_TEÓRICA), 7 como definição do termo (DEFINIÇÃO_DO_TERMO), 7 como extinção do cativeiro (EXTINSÃO_DO_CATIVEIRO) e 5 como (CAMPO_DE_PESQUISA_ESTUDO); não sendo utilizado como aspecto político (ASPECTO_POLÍTICO), crítica do termo(CRÍTICA_DO_TERMO), nem perspectiva comparativa (PERSPECTIVA_COMPARATIVA). Dentre as citações, 11 ocorrências estavam na nota de rodapé. Ver gráfico 11. Gráfico interativo disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_analise_central.html.

Nos identificados como tema incidental, encontramos 116 citações com sentido teórico (PERSPECTIVA_TEÓRICA), 2 como extinção do cativeiro (EXTINÇÃO_DO_CATIVEIRO), 1 (CAMPO_DE_PESQUISA_ESTUDO) e 1 como perspectiva comparativa (PERSPECTIVA_COMPARATIVA); não sendo utilizado como aspecto político (ASPECTO_POLÍTICO), definição do termo (DEFINIÇÃO_DO_TERMO), nem como crítica do termo(CRÍTICA_DO_TERMO). Dentre as citações, 04 ocorrências estavam na nota de rodapé. As demais foram identificadas na bibliografia ou de maneira incidental no corpo, como em títulos de publicações, etc. Ver gráfico 12. Disponível para acesso interativo em: https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_analise_incidental.html .

3.2 Breve análise de alguns dados

Diante da variedade de formas de identificação territorial que compõem a geografia brasileira, foi difícil caracterizar o recorte espacial a partir da descrição dos papers, pois, algumas publicações descreviam o território como um conjunto de estados ou regiões. Sobre o recorte espacial, buscamos identificar quais espaços geográficos serviram como cenário para apresentar o conjunto de ações e atores que se desenrolam nos papers. Perceber estes cenários poderá nos indicar futuramente em que medida as temáticas tratadas no pós-abolição tendem a ser relacionar com a concentração da população egressa do cativeiro própria daquele espaço geográfico ou em decorrência de processos migratórios após a abolição. Além disso, pode indicar certa relevância para perceber o envolvimento histórico da região com o período e de que maneira isto poderá impactar na pesquisa histórica regional e na relação dela com a historiografia nacional, sobretudo refletindo sobre a disponibilidade de fontes na localidade.

Com os dados inicialmente podemos perceber que aos três primeiros Estados ranqueados no gráfico, se tratavam de localidades com importante concentração de população negra escravizada (Rio e Bahia) ou de intenso processo migratório durante o período colonial e dos anos inicias da República (São Paulo). Contudo, não há dados no momento para confirmar essa ligação, porém, podemos perceber como estas regiões se destacaram quantitativamente.

Sobre o recorte temporal, a maioria das publicações tratavam sobre os séculos XX(46%), XIX(40%) , e o século XXI (cerca de 12%) - que embora seja uma diferença razoável em relação aos anteriores, ainda assim é um valor expressivo. Esse resultado, analisado no primeiro momento confirma o que supõem Petrônio Domingues e Flávio Gomes de que boa parte dos historiadores que discutem o pós-abolição no Brasil, apontam para um período difícil de ser enquadrado em um tempo histórico definido por datas fixas, possivelmente iniciado na década de oitenta do século XIX, indo até o período de redemocratização no século XX, constituído por agentes e espaços variados(Domingues e Gomes, 2011). Porém, gostaríamos de colocar algumas ressalvas do que uma análise mais detalhada poderia indicar: precisaríamos nos certificar sobre quais décadas do século XIX os autores dos papers estão tratando, pois, poderiam resvalar em períodos anteriores, o que levaria a pensar o campo a partir de um contexto mais amplo, como um período que refere-se às emancipações não necessariamente à abolição da escravidão, principalmente pela quantidade de alforrias existentes no Brasil na data da abolição, tanto por Leis como a do Ventre Livre(1871), quanto por estratégias pessoais de liberdade anteriores a década de 1880.

Poderíamos refletir também, se o pós-abolição é um período finalizado com a redemocratização no Brasil na década de 1980, ou se ainda são percebidas continuidades, mas não podemos fazer afirmações pelas mesmas razões anteriores. No entanto, a incidência do termo no século XXI, embora apareça na maioria das vezes nas publicações com tema incidental (29), e sejam relacionadas à políticas públicas voltadas para as populações afro-brasileiras, boa parte, com referência a Lei 10.639/2003(12), podem denunciar a existência de lacunas que não foram sanadas pelo processo de abolição, mesmo no âmbito educacional, o que a implementação da própria Lei denuncia, apontando a abolição como um projeto inacabado.

Relacionado às temáticas, observamos que as três principais referem-se a “trabalho”, “memória” e “trajetória masculina”.

A temática “trabalho” justifica-se pelo campo do mundo do trabalho ser um dos que mais se discute no período republicano devido as mudanças relacionadas ao processo de produção que eclode no século XX. Com o fim da escravidão e os debates sobre o trabalho, direitos e cidadania, as questões sobre inserção do negro do mercado de trabalho e na sociedade republicana fazem-se de extrema relevância para estudar o pós-abolição e os projetos de nação. Embora, enquanto campo historiográfico, “até a década de 1990, aproximadamente, apenas a marginalização dos libertos no mercado de trabalho pós-emancipação era enfatizada nas análises historiográficas.”(RIOS; MATTOS, 2004). Recentemente artigos como de Álvaro Nascimento vem apontando a existência de um campo vasto de pesquisa para refletir sobre os negros no mercado de trabalho nesse período.

A temática “memória” apareceu como a segunda mais evidente nos papers. Podemos refletir sobre a mudança do processo de escrita da história. Por muito tempo, a historiografia nacional esteve pautada em apresentar o pós-abolição a partir de um projeto de nação, da ótica da elite (RIOS; MATTOS, 2004). Tratar sobre memória, entendemos ser o que permite aos descendentes dos egressos do cativeiro estarem inseridos na construção da historiografia nacional, dado os projetos educacionais falidos da elite que marcaram a Primeira República, recorrer a memória de uma população analfabeta ou “semi-alfabetizada” é a maneira de reconstruir a história vista por uma outra vertente.

A temática “trajetória masculina”, é uma tendência de escrita que segue as concepções da Micro-História de Carlo Ginzburg e Giovanni Levi. Devido a interesses futuros de pesquisa relacionadas à questões de gênero, preferimos fragmentar a etiqueta “trajetória” em “trajetória masculina (15)”, “trajetória feminina(0)” e “trajetórias(5)” e gostaríamos desde já de apontar que embora as trajetórias coletivas apontem em certa medida o papel feminino, no âmbito das trajetórias individuas nenhuma foi identificada, o que confere um dado relevante a ser analisado posteriormente. O que não nos impediu de refletir sobre o estudo das trajetórias negras no pós-abolição serem uma maneira de humanizar o negro que sofreu o empenho de desumanização e coisificação tanto pelo processo de escravização quanto por parte da historiografia e, restituí-lhe seu espaço agente ativo no processo histórico.

Em relação à análise do pós-abolição, tanto nos papers onde o pós-abolição era a temática central quanto incidental, encontramos ocorrências, embora com menor incidência que tratavam o pós-abolição como o fim do trabalho escravo, sob a forma de extinção do cativeiro e enquanto um campo de pesquisa e de estudos historiográfico. Apenas os papers de tema central definiram o termo, enquanto apenas encontramos ocorrência de perspectiva comparativa em temática incidental. Em ambos não identificamos ocorrência da utilização do termo com aspecto explicitamente político, embora algumas temáticas tratassem de elementos que representam elementos políticos para uma determinada população no pós-abolição. Não identificamos o uso a partir de uma crítica.

Observamos, contudo, que uma maioria significativa de citações trata o pós-abolição enquanto uma perspectiva teórica, tanto nas publicações de tema central quanto nas de tema incidental, embora tenha existido uma significativa diferença na quantidade de ocorrências, o que era esperado pois, as publicações de temática incidental não objetivavam tratar sobre o termo. Entendemos essa perspectiva teórica como um código que reuniu papers em que o pós-abolição servia como enquadramento da pesquisa. Esse foi o caso de 96% das ocorrências.

Embora tenha existido diferenças quantitativas em relação a utilização do termo, a análise qualitativa apontou convergência no uso do sentido do termo nas publicações. Ver gráfico 13. Gráfico interativo disponível em:https://ericbrasiln.github.io/pibic_2020-2021/pos-abolicao/graphs/bar_analise.html.

Essa análise indica que o campo, embora esteja consolidado, carece de discussões metodológicas e conceituais mais explicitas. Os usos do termo nos papers da anpuh nos levam a avaliar que, apesar de sua importância, existe pouca precisão em sua definição e pouco cuidado teórico reflexivo por parte de autores e autoras na explicitação do seu entendimento sobre os sentidos epistemológicos do uso do pós-abolição em suas publicações.